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Cidade Maravilhosa, só que não

Cidade Maravilhosa, só que não

“Rio que mora no mar” são as palavras do poeta, mas não é só no mar que o Rio mora. Ele mora nas ruas, no asfalto, no morro, bem além internacionalmente conhecida da Zona Sul. Para quem mora lá é fácil reconhecer a beleza da cidade, mas não é bem assim que acontece na minha vida.

Sou João, mais um pobre e morador da cidade do Rio de Janeiro. Mas não esse Rio vendido pelas agências de turismo. Sou do Rio da Zona Oeste, o Rio de Santa Cruz, bem longe de tudo que é bonito e bem perto do sofrimento do povo.

Talvez você, que esteja aí do outro lado, tenha uma vida fácil. Talvez more na Zona Sul ou até mesmo na Zona Norte e acredite que tem uma vida difícil porque pega um, engarrafamento de vez em quando ou porque levaram o carro do seu vizinho na porta de casa. Mas posso te dizer, com segurança, que você não conhece metade dos transtornos da cidade.

“Não se pode mais andar de bicicleta na Lagoa. É facada toda hora.” É, é triste ver alguém morto por causa de uma bicicleta. Triste também é ver gente morta na favela toda hora, meninos perdendo a vida pro crime, sem terem oportunidade alguma.
Apesar de tudo o que estou falando, acho que o Rio tem um lado bom sim. Só que esse lado nada tem a ver com a polícia, com o prefeito ou com o governador. O lado bom está nas praias, nos morros, nas belezas muito naturais. O lado bom está no samba, no funk, na ginga do pobre que o rico tenta aprender.

Sou apaixonado pelo Rio de Madureira, da Portela, da Império e da Mangueira também. Pelo Rio da Vila e da Lapa, então, nem se fala. A boemia que aquece os corações de quem é daqui e de quem é de longe, até de fora do país.

O Carnaval é o nosso ponto forte, porque muitos tentam, mas ninguém ainda conseguiu fazer igual. O espetáculo da Sapucaí é todo nosso, feitos por nós, ainda que muitos de nossos amigos, parentes e vizinhos não tenham acesso ao show de música, fantasias e alegria. Ainda que os paulistas tentem, estão longe de nos alcançar. Nas ruas, os blocos fazem a festa para tudo o que é gente. E nós invadimos sim a Zona Sul com muita simpatia, que é quase amor, diga-se de passagem.

Claro que depois de tanta festa fica a sujeira que o pobre tem que limpar, coitado do gari, que vai lidar com um mar de imundícies. Nessa hora, as imagens ficam longe de refletir as paisagens naturais cariocas.

Tento sempre olhar pelos dois lados, acredito que todo o mal tem sua parcela de bem e vice-versa. A cidade que explora é a mesma que oferece a praia pro povo ter um momento de lazer. Da mesma forma, tem muito morador da Zona Sul sofrendo com o tiroteio na favela. Se eu acho justo? Nem sei o que é justiça de verdade.

Cidade Maravilhosa, só que não
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Cidade Maravilhosa, só que não

Crônica escrita para a disciplina "Design da Informação em Jornalismo", 2015.

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